Recebi tantos pedidos/reclamações (e tendo trabalhado na área da consultoria, sou “obrigada” a tratar as reclamações para atingir os 100% na “Avaliação de Satisfação dos Clientes” J) que voltei para o meu computador para “sintetizar” os meus últimos meses na República da Irlanda...
Por onde começar?? Pelo começo???
JANEIRO
Nada de especial: Uns cursitos para preencher os meus dias, trabalho de laboratório (arghhhh.... essa parte traz-me más memórias... A investigação tem a sua quota-parte de piada, mas quando nada funciona??!!! Acreditem que o ânimo leva cada bofetada!!!...). De resto, levei uma vidinha bastante “normal” (isto para não dizer banal): universidade – casa, casa – universidade... Tenho de acrescentar, que o tempo não foi mau... Estes Irlandeses e a mania que está sempre a chover cá... Ou terá sido S. Pedro a ter pena de mim e levou as nuvens para a Islândia e U.K?
FEVEREIRO – Primeira Visita/ Ida a Belfast
SSDD (para quem não leu “O Caçador de Sonhos” do Stephen King – significa "Same Shit, Different Day")... Same all, same all... Até ser presenteada com a visita da minha irmã Paula (vive na Suíça... Sim, sim, tenho uma família completamente (a)normal – estamos espalhados pelos 4 cantos da Europa).
Como boa anfitriã que sou e gosto de ser (a modéstia ficou em casa), decidi presentear a minha mana com uma visita à Irlanda do Norte, mais concretamente – Belfast. Tudo maravilhosamente bem organizado: bilhetes de autocarro de Dublin a Belfast directo, i/v; B&B reservado (via internet) de Domingo a Terça. Entusiasmo? 100% (apesar dos avisos da Una...).
A minha manuchka chegou a Dublin no sábado de manhã. Demos uma voltinha pelo centro da cidade à tarde e voltamos para casa para nos pormos (ainda) mais bonitas e... NOITE!!!! Levei-a ao único pub que conhecia (sim, “conhecia”, porque a esta hora já corri mais alguns – apesar de não estar bem certa da localização... porque será???), mas depressa nos fartamos de lá estar e então iniciamos um jogo engraçado chamado “Corre porta sim, porta sim, até encontrares o poiso mais engraçado”. Corrida às tascas (ideia da mana, não minha)!!! Bem... Paramos algures (não estou bem certa onde – apesar de lá ter voltado, não sei como...) e depois regressamos a casa para um descanso merecido!
Domingo: tudo preparado para uma grande jornada! Vê-se pelas fotos tiradas nessa manhã... Carinhas rosadas de felicidade! Atravessamos a verdejante ROI (Republic of Ireland) (repentinamente lembrei-me do poema de Camões – “Verdes são os Campos”...), e chegamos à assustadora grisalha Irlanda do Norte, após 3 hrs de autocarro – que passaram num instante: muita conversa pusemos em dia. O ânimo mantinha-se – há que ser optimista – e aquele primeiro impacte visual não nos assustou. O autocarro deixou-nos bem no centro de Belfast e apanhamos um “black taxi” para o nosso soberbo “hotel” – primeira “real” desilusão: fiz as reservas via internet (adoro as novas tecnologias – sou tão fashion e ultra-moderna!!!) – ok, as fotos do site tinham levado uma lavagem facial via Photoshop, de certeza!!! Jaessus!!! Devo ter um sério problema quanto à utilização correcta das palavras (lembram-se da última casa que fui ver: “luxurious”? Arghhhh, um esgoto tinha melhor aspecto do que àquele estúdio!!!) – aconteceu novamente o mesmo com este B&B (Bed&Breakfast): ok, ok... Admito, procurei o mais barato (€170 por 2 noites com PA incluído) – mas a Ryanair também é uma companhia low-cost e as viagens são agradáveis e ainda não caiu nenhum avião... (euhhhh, possivelmente não é a melhor comparação!) - Cottage (casinha rústica, campestre)? Nop, primeira visão? Uma casa victoriana a cair velha... Por dentro... Estava “arranjadinha” – um misto decorativo (mas também os Britânicos não são famosos pelo seu bom-gosto, certo?), e limpinha. Também já dormi em cada recanto, que este não destoava muito do meu manancial de residenciais...mas a minha maninha Paula (conhecida pelo seu lado “posh”) não achou grande piada!!! Aliás, achar, achou... Riu-se às minhas custas!!! Isto é o que deve acontecer aos homens, quando querem impressionar uma mulher: sai-lhes sempre o tiro pela culatra!!! E ainda estávamos no início!! Largamos as malas no nosso “luxurioso” quarto e rumo à descoberta!
Começamos bem: um belo jardim à porta de casa, um lago... Estávamos a ficar novamente entusiasmadas... mas também não durou muito... Mal saímos do jardim, deparamo-nos com a devastação do IRA: igrejas destruídas pelas bombas, pequenos memoriais às vítimas de bombardeamentos, murais de propaganda à guerra... Ok. É mórbido, mas sabendo da história de Belfast, até estava a ser interessante (com um misto de arrepiante!). Mas o mais chocante, era o estado das ruas: o cheiro nauseabundo de cócó de cães e urina, lixo, lixo, lixo, cinzento, cinzento, cinzento por toda a parte... Fiquei na dúvida se a Irlanda do Norte ainda pertencia à GB (Grã-Bretanha). Porque realmente quando pensamos na GB, surgem-nos imagens da verde Escócia, dos ricos castelos do País de Gales, Londres e a sua megalomania... E então, a Irlanda do Norte??? Ficou esquecida porque encontra-se noutra ilha??? O mais cómico nesta estória, é que estavam afixados em postes de iluminação sinais de multa aos donos de cães que não apanhassem as prendinhas dos Lulus (£500 = €750)... Bem, a polícia de Belfast de certeza que anda a comer de sono!!! Porque pela quantidade de m**** que encontramos nos passeios, ninguém apanha nada, e os cãezinhos andam bem alimentados e sem problemas de obstipação!!! Outra observação: ao contrário de Lisboa, em que a zona a Norte do rio é a mais “posh” – tanto na ROI como na Irlanda do Norte, a zona Norte (onde, azar dos azares, ficamos a pernoitar) é a Zona J – misto entre Casal Ventoso e Chelas... Fomos andando até chegar ao centro da cidade – metade das igrejas fechadas a cadeado e destruídas (fui avisada pelos meus colegas - antes de partir – para nunca mencionar a minha religião...LOL... Não sou assim tão fanática da Igreja Católica para andar a gritar nas 4 esquinas que faço parte dessa “bela instituição”).
O centro de Belfast até estava arranjado, limpo, organizado... possivelmente do tamanho do centro de Barcelos (??) – por isso, custos de manutenção muito reduzidos (os cócós/cheiros desapareceram quando chegamos ao “centro turístico”). Caminhamos, caminhamos até chegarmos ao Jardim Botânico – grandes gargalhadas à custa da minha enorme vontade em surpreender “positivamente” a minha manuchka – pouco ou nada a visitar – ou então estávamos já fora do horário de visitas... Desilusão sobre desilusão... Passamos pela Ulster University – a mais antiga universidade em Belfast: pela primeira vez, neste primeiro dia, sentimo-nos seguras e numa cidade um pouco mais cosmopolita... Jantar no Burger King (pois... nada saudável mas economicamente viável) e ida ao cinema (muito cultural!! Como se não existissem cinemas noutras cidades). O filme? Bem, é melhor ficar no segredo dos Deuses, porque tenho vergonha de dizer que fui ao cinema ver esta película... Posso só dizer que foi a cereja no topo do bolo e coroou um dia de desaventuras... Regressamos a casa, agarradas ao braço uma da outra, às 21h00. Nunca, nunca me senti tão insegura. Miúdos adolescentes bêbados ou drogados, a espalhar o terror – sem exageros! Pontapeavam carros, latas de lixos, gritavam, empurravam-se para a estrada, gritaram-nos... Chegando ao quarto (tremelicando): 3 canais de televisão – loucura total!!! Ainda por cima BBC (arghhhh). Notícia do dia: uma miúda tinha sido violada no campus da Ulster University no dia anterior às 23h00... Okaaayyyy.... Seguras?? Eu??? Já estava com vontade de voltar no primeiro autocarro da manhã a Dublin... A minha mana – bem mais optimista do que eu – convenceu-me a ficar, como combinado, até terça-feira.
Segunda: Pequeno-almoço britânico para a Paula e continental para mim... Ainda hoje estou para entender como é que a minha irmã (toda ela probiótica e contadora de calorias) conseguiu ingerir aquela quantidade astronómica de comida e Kcal!!! Pequeno-almoço britânico: omelete, bolo de batata, panqueca, feijões vermelhos, bacon grelhado, cogumelos e salsicha frankfurt. Pequeno-almoço continental? Croissant industrial, uma embalagem de compota industrial, outra de manteiga industrial, uma barra de cereais industrial, queijo industrial, uma fatia de fiambre industrial e uma fatia de pão...industrial. Como dizem os franceses: “Je me suis fait avoir!!!” (“Sinto que fui enganada”). Mesmo assim, acho que o meu estômago não teria aguentado aquela quantidade de comida “saudável” J. Pelo menos, tínhamos café, leite, sumo de laranja e cereais à descrição... Após este comensal pequeno-almoço, decidimos partir à aventura da descoberta do Castelo de Belfast. Pedido de informações na residencial: é já no topo da rua! (Diabo!! Ninguém me avisou que na Irlanda – seja ela qual for – continuam com a mania que tudo fica no virar da esquina!!!). Subimos a rua (pois, ela era a subir!!!), arfamos umas quantas vezes, até decidir perguntar se estávamos no caminho certo... Sim, sim... mais uns metrinhos adiante, iríamos encontrar placas informativas.... Certo!!! No meio de um descampado, umas placas... Certo... O castelo? Nem vê-lo!!! Volto a perguntar a um senhor, que gentilmente me informa que é algures no meio do monte, a cerca de 2 milhas dali (o equivalente a 5kms). Com a coragem atravessada a meio da garganta, metemo-nos a caminho. Tempo choco (chuva miúda) e nada convidativo a caminhadas. Teimosia? Q.b.
Segundo o filme “My Fair Lady”: “um cavalo sua, um homem transpira e uma mulher cintila”... Acreditem que não cintilei!!! Suei, transpirei, suei, transpirei... Desgastei o meu pequeno-almoço industrial e arrependi-me não ter comido os feijões e o bacon!!! Chegamos ao topo da colina, após curvas e contra-curvas de caminhos de monte, sempre a mirar os montes à procura do maldito castelo... e finalmente, lá estava o mono!!! E eu? Roxa, vermelha... de todas as cores.... Ufa, já não podia com as minhas pernas!! E para ver o quê??? Um castelinho!!! (Que na gíria portuguesa, seria considerado na melhor das hipóteses uma casa senhorial...) Conteúdo? Népias. Mais pobre do que o nosso grandioso Castelo de Guimarães! Bem, demos uma rápida visita ao monumento (ainda bem que a visita foi gratuita, porque muito sinceramente, após uma caminhada de 1hr30... Se tivesse que pagar, dava-me um tiro!!!) e bebemos um cházinho quentinho no café do palácio (Palácio??!! Até dá vontade de rir!!!). De volta ao montanhismo/corta-mato/cardio-fitness/musculação/e mais alguma coisa, metemo-nos na cabeça continuar com a nossa caminhada matinal... Mas que diabo nos passou pela cabeça??!! OK – tivemos inteligência suficiente para não voltar pelos caminhos de montanha e voltar à civilização por estradas transitáveis... Mas se tivemos a sorte de “chuviscar” na subida, não tivemos tanta sorte na descida... A chuviscada continuou mais forte e, por teimosia minha (mea culpa, admito), andamos até ao centro da cidade (quando podíamos ter apanhado um autocarro...). Chegamos a um Centro Comercial, molhadas até aos ossinhos (ai, as nossas botinhas em camurça). Ficamos a tarde toda a bebericar no Starbuck’s... E este foi o nosso último dia em Belfast...
Terça: De sorriso na cara (a minha mana voltou a apostar nos feijões e eu na Indústria para pequeno-almoço), voltamos a Dublin... O quanto fiquei a apreciar (ainda mais) o meu novo cantinho!!!
No resto da semana (a Paula foi embora no sábado), para infelicidade de ambas, tive de trabalhar na quarta e quinta, e na sexta, demos uma volta pelos belos recantos de Dublin (uma bela cidade!!!)...Um pouco ressentidas das longas e penosas horas gastas/desperdiçadas em Belfast, estávamos a pensar passar a nossa última noite agarradas a uma chávena de chá/T.V., mas fomos “desencaminhadas” pela Una (esta islandesa está sempre agarrada às Pints!!! Por isso é que ficamos tão amigas!!!)... Market Bar como final de férias! Muita conversa e gargalhada!! O certo é que os meus amigos ficaram todos encantados com a minha manuchka...
Regresso à “normalidade” após esta louca semana de férias!!!
3- MARÇO – Ida a Cork/ Assalto/ Ida à Portugal
Sexta 09 - Fui à Cork visitar a minha amiga Sílvia e o Julito (o namorado). A minha companhia aérea favorita (Ryanair) levou-me em 30 mins de Dublin a Cork pela módica quantia de €25 i/v. Primeiro problema na minha chegada ao aeroporto: vestia um casaco em lã que fecha com um enorme alfinete-de-ama. Potencial arma... Olhei para a hospedeira com cara de “Está a gozar comigo, não está??”. Tive de pedir a um casal de reformados se podia despachar o maldito alfinete na bagagem deles, porque não tinha nenhuma bagagem registada... Cheguei a Cork (http://www.cork-guide.ie/corkcity.htm) – uma pequena cidade no Sul da Irlanda – sem nenhum outro percalço – a não ser o facto do casal ter enfiado o alfinete num bolso da mala e termo-nos vistos gregos para retirá-lo do fundo!!! Recebida calorosamente pela Sílvia e pelo Julio! É tão bom ver amigos!!! Muita conversa, sempre... Muitas histórias e desabafos... Muito cházinho...
Sábado 08 – Uma rápida visita à Universidade de Cork. Puramente divinal! O prédio principal era o castelo de férias da Raínha (quando a ROI ainda estava sob poder britânico) – o que lhe confere um certo charme e romance. E a mistura entre a rudeza de um monumento histórico e a frescura da nova arquitectura... adicionando-lhe o som do rio fronteiriço... Divinal! Fomos para casa preparar o almoço – pois nessa semana tinha chegado um novo aluno mexicano (o Julio é mexicano) e era convidado para o almoço... Esperamos cerca de uma hora e o miúdo nunca apareceu (agora é que me lembro que me esqueci – LOL – de perguntar à Sílvia o que aconteceu com o rapaz). Solução simples: almoçamos (miam, miam – ele não sabe o que perdeu) e fomos dar uma volta à cidade de Cork. Pequenina mas encantadora! Era previsto, à noite, irmos ver a transmissão televisiva de um jogo de futebol (não me recordo das equipas...) a um pub, mas a Sílvia e eu decidimos passar um belo e confortável serão a ver “Amores Perros” e a bebericar uma chávena de chá...
Domingo 09 - Uma chuva torrencial!!! Autêntico dilúvio!!! Ainda bem que íamos almoçar à casa de uma aluna de pós-doutoramento espanhola. Nunca, em tão poucos dias, ouvi falar tanto Espanhol e variações do Espanhol... Coitados, pois tiveram de aturar-me e como sou espanholofóbica (isto é, como boa filha de Emigrantes Portugueses, detesto espanhóis e o meu cérebro não processa o Espanhol), também tiveram de esforçar-se para entender-me... Três Espanholas, um Mexicano, uma Argentina e duas Portuguesas... e eu era a única a no hablar una palabra de español. Saí a rebolar – sopa de lentilhas, tortilha, salada e mais mousse de limão... Fui apanhar o avião de estômago a rebentar – ainda bem que não somos como as bagagens e não pagamos excesso de peso, porque acho que fui embora para Dublin com uns quilitos a mais!
Terça-feira 13 – Ainda dizem que é a sexta-feira 13 que dá azar!!! Reformulem!! É mesmo o número 13, independentemente do dia da semana!!! Dizem que o dia só termina quando pousamos ambas as orelhas na almofada... Verdade verdadeira... E para mim, este dia foi mesmo looooooonnnnnngooooooooo!!!!!
Na Irlanda, existe um grande lobby (não, não!! Também existem lobbies aqui) relativamente aos espaços comerciais, principalmente na área da distribuição de produtos alimentares. Traduzindo por miúdos: existem duas cadeias de supermercados (não existem hipermercados – ainda se vive na era pré-histórica) na Irlanda: o Lidl e o Tesco. O Lidl é geralmente catapultado para as áreas límitrofes das cidades, obrigando as pessoas - que não têm carro - a recorrer ao Tesco – enorme (e monopolista) cadeia de supermercados na GB e ROI e onde costumo fazer as minhas compras semanais. Depois, existem dois tipos de Tesco: pequenos (OPÇÃO 1 - como o que fica perto da minha casa) e médios (OPÇÃO 2 - como o que fica perto da Universidade). Se quiserem algo um pouco mais “chique”, tal como uma certa variedade de vegetais avulso, então têm de recorrer à OPÇÃO 2. Senão a OPÇÃO 1, funciona “perfeitamente” como local de compras de mercearias banais...
Ora, nesta precisa terça-feira (tinha estado em Cork no fim-de-semana anterior, logo não tinha feito as minhas compras semanais) recorri à OPÇÃO 2. Saí da Universidade, mochila às costas por volta das 19h00, e fui ao Tesco perto da Universidade. Depois era só apanhar o autocarro para casa (5 mins). Quem conhece Dublin, sabe que a zona Sul é das zonas mais seguras da cidade. Aliás nunca me senti insegura em Dublin... até este dia. Entrei no supermercado, agarrei num carrinho de compras e enfiei a minha mochila na cadeirinha (onde se costuma pôr as crianças). Já estava a meio das minhas compras quando, no corredor dos produtos de higienização da casa, me lembrei que queria um ambientador. Larguei o carrinho a meio do corredor e fui até à ponta buscar o (mal)dito produto. Ouvi uma vozes e levantei a cabeça – primeiro reflexo: verificar que a minha mochila ainda estava no mesmo lugar – volto a baixar a cabeça para agarrar o ambientador e quando me levanto, a minha mochila... tinha DESAPARECIDO!!! Por mais estúpido que possa parecer, mas o meu primeiro pensamento foi: “Deixei a mochila aqui, certo?” (a primeira vez que me rebocaram o carro, fiquei na dúvida se o tinha estacionado naquele local...). Comecei a correr pelo supermercado fora, verifiquei as saídas e... nada! Dirigi-me a um funcionário e perguntei se tinham um sistema de câmaras, pois tinham-me roubado a mochila. Bem, se já estava com os nervos em franjas, fiquei pior depois de ver a calma do fulano! “Don’t worry, Miss, we’ll get your bag back!” e EU AINDA ACREDITO NO PAI NATAL!! Enquanto ele foi chamar o Gerente da loja e o Chefe da Segurança, pus-me feita barata-tonta a ver se via alguém suspeito... Comecei a entrar em pânico, pois não tinha os contactos de ninguém na Irlanda (os telemóveis facilitaram-nos a vida, mas quantos de nós têm os telefones apontados numa agenda, como roda-de-socorro, numa eventualidade como esta?), as minhas chaves de casa?? (A minha colega tinha ido para casa estudar para os exames... E o contacto dela estava no telemóvel roubado...). Onde é que ia dormir? O cartão de acesso ao Instituto? Na mochila! Depois (dentro dos azares, uma pontinha de sorte) apercebi-me que tinha enfiado as chaves de casa no bolso do meu casaco. Deixaram-me telefonar para Portugal à minha mana Carla para cancelar os meus cartões. Mal pouso o telefone, chamaram-me a dizer que tinham encontrado uma mochila - Uma mulher tinha pedido à caixa se podia deixar a mochila e depois pôs-se em fuga, o que levantou suspeitas e levou a caixa a chamar os colegas de trabalho.
Cara de felicidade!! A minha mochila, a minha mochila!!! Pedem-me para “identificar” a mochila e para verificar o conteúdo. Abro os bolsos e claro... tinha sido remexida. Carteira? Remexida – o cartão MB irlandês e o dinheiro vaporados. Telemóveis? Népias... Desespero... Faço uma rápida descrição dos telemóveis: 2 Nokias – um branco numa bolsa em pele branca e um castanho chocolate numa bolsa em camurça bege. Enquanto estou à espera que chamem a Polícia, o Gerente da loja chama-me a dizer que dois colegas (que tinham presenciado toda a cena) estavam no autocarro - de regresso à casa após um longo dia de trabalho - e reparam numa mulher a remexer em 2 telemóveis correspondendo à minha descrição. O Gerente pede-me o meu contacto de telemóvel e (como num filme) com um telefone numa orelha a falar com os colegas no autocarro, e com um telemóvel na outra orelha – liga para o meu telemóvel....
- “Está a tocar?”
- “Sim” respondem os funcionários.
- “Vou desligar e volto a ligar a ver se realmente é o telemóvel.”
Volta a digitar o meu número e do outro lado volta a tocar “Sadie” num telemóvel...
Confirmado!! É o meu telemóvel (o outro estava desligado, pois estava sem bateria). Os funcionários pediram ao motorista para parar o autocarro (os autocarros de Dublin têm um sistema interno de câmaras de filmar e ligação directa à Polícia). Toda a gente bloqueada no autocarro (imagino a cara dos passageiros... O autocarro pára e não lhes é dada qualquer satisfação... Ficava piurça se estivesse dentro desse autocarro – mas como estamos a falar dos meus pertences... Acho muito bem!!!). A Polícia prende a fulana e leva-a para a esquadra.
O Gerente telefona à Polícia a perguntar quais as demarchas a seguir e o guarda informa-o que estão na mudança de turnos, e só posso apresentar queixa à partir das 23h00... Misto de felicidade e aborrecimento... Sinceramente, só me apetecia ir para casa!
O Gerente da loja pagou-me o bilhete de autocarro até ao centro da cidade (pois estava sem um cêntimo...) e nomeou um funcionário para ir comigo. Chegando à esquadra, agradeço aos heróis do dia e sou chamada a depôr.
Duas situações em que o meu inglês fica “quase” perfeito: quando estou etilicamente bem-disposta e quando estou à beira de um ataque de nervos!
A mulher-polícia (muito simpática) pede-me para identificar os meus telemóveis e após muita insistência da minha parte, devolve-me o meu MB (que ficou inútil, pois a ladra após ter sido apanhada, dobrou-o, partindo a banda magnética e deixou-o cair no chão da esquadra... o quanto estúpida uma pessoa consegue ser num só dia!!!). Fico notificada que os telemóveis são considerados “prova de um crime” e que posso ser legalmente processada caso os perder/vender! Também fiquei de notificar a Polícia cada vez que me ausentar do país/ alterar de residência pois posso ser chamada a depôr em tribunal a qualquer momento... Euuhhhh.... Afinal quem é a criminosa???
Mas o melhor ainda estava para vir. Já passava da meia-noite quando finalmente vi o fecho de um longo dia...
Último problema a resolver: estava sem dinheiro (pois... esse não mo devolveram pois é considerado prova e como fui a segunda vítima do dia da ladra (o meu roubo serviu pelo menos para ajudar outra pessoa a também recuperar os seus pertences), o dinheiro que encontraram tanto podia ser o meu como o da outra vítima...), sem cartões MB/de crédito portugueses (cancelados pela minha super-eficiente irmã) e irlandês (estragado pela super-ineficiente-burra-palerma-estúpida da ladra), não tinha como voltar para casa. Estava na esquadra do centro da cidade e a cerca de 7kms de casa... Os autocarros terminam à meia-noite, não tinha como pagar um táxi e acho que tinha tido um dia suficientemente longo e traumático para pôr à prova (mais uma vez) a minha sorte e me meter na aventura de ir à pé até casa... Por isso, e pondo a vergonha de parte, pedi à Polícia se podiam me dar uma boleia... Pediram-me para aguardar uns minutinhos pois ia uma brigada sair para patrulhar a minha área de residência... Fantástico! A minha sorte estava a mudar!!! Certo... (tenho de deixar de acreditar no Pai Natal)... Qual não é o meu espanto quando acompanho os dois polícias ao parque de carros e vejo-os a dirigirem-se a uma carrinha tipo “Renault Traffic” – enormíssima!!! Vou para entrar na cabine de passageiros quando o polícia me diz: “Não, não!! Os civis não podem circular na cabine”. OK! Então, vou sentada onde?... E onde havia de ser?? Digam-me?? Pois... Adivinharam! Fui presenteada com uma boleia para casa... NA JAULA!!! Fiquei notificada e “sob vigilância domiciliária”, por isso, uma voltinha no carro-jaula foi mais do que normal!!! Uns metros antes de chegar à minha casa, pedi-lhes se me podiam deixar na paragem de autocarros (moro perto de um dos hóteis mais requintados de Dublin e sair da jaula à porta de casa...não sei... No dia seguinte, teria uma ordem de evacuação colada à porta!!!). Após um braço-de-ferro com os meus motoristas – que insistiam em deixarem-me à portinha de casa – lá consegui convencê-los a “libertarem-me” na paragem de autocarros. Quando entrei em casa, nem conseguia acreditar que, finalmente, finalmente... o meu dia tinha acabado. Uma simples ida ao supermercado que, num dia normal, teria tomado umas 2hrs do meu dia, acabou por durar, nada mais nada menos, do que 6hrs. Fiquei sem as minhas compras, sem cartões MB, sem dinheiro, sem umas horas de sono... E ganhei: uma notificação domiciliária, uma boleia para casa no carro-jaula e mais uns cabelos brancos!
Mas, como em todas as estórias, há sempre um final “feliz”: recuperei os meus pertences, “ajudei” outra pessoa a recuperar os dela, “transformei” dois funcionários em dois heróis, fiquei com mais uma estória para contar, aprendi que Dublin, afinal, é uma cidade/capital como as outras e... acima de tudo, descobri que tenho verdadeiros amigos!
...
E tenho de dar razão ao Gerente do Tesco de Mount Merrion... Eles realmente recuperaram a minha mochila! (mas continuo a não acreditar no Pai Natal!)
Quarta 14 - A minha irmã (que nem é titular das minhas contas bancárias) consegue cancelar os meus cartões via telefone. Até aqui, nada contra, apesar de ser dúbio. Dia seguinte a ser “assaltada”. Contacto os meus bancos para saber se há possibilidade de re-activar os meus cartões. Dúvidas:
a) Como é que esperam que uma pessoa possa ela-própria anular os cartões após ter sido roubada, se os contactos dos bancos encontram-se no verso dos cartões roubados?
b) Querem saber o número dos cartões. Ok! Meu senhor, tenho uma memória de elefante para números (sei de cabeça os números de contribuinte, de Bilhete de Identidade e contas bancárias de toda a família), mas, as minhas sinceras desculpas, esqueci-me de decorar os 16 dígitos dos meus 4 cartões MB/de crédito... Deve estar a gozar!!!
c) Tenho de dirigir-me pessoalmente ao balcão do meu Banco e solicitar novos cartões. Ok! Fui roubada, tenho os meus cartões cancelados e estou num país estrangeiro... e Deus esqueceu-se de me dar asas (aliás, estão prometidas para quando “bater a bota”). Está à espera que vá para Portugal como??? À nado??? Resposta do senhor do outro lado da linha (só me apetecia bater-lhe quando ouvi esta...): “Dirija-se ao Consulado/Embaixada Portuguesa e peça para ser repatriada!” Juro que pensei que ele estava a gozar comigo! Ok, estou num país desenvolvido e que, por acaso, tem uma Embaixada Portuguesa. Mas, e se estivesse perdida algures no meio do Zimbabwe??? Ia ser “repatriada” como??
Bem, após muita discussão “vazia” e que não me ia levar a parte alguma, decidi ser “repatriada” às custas da minha mana e marquei um vôo para Portugal.
Quinta 29 – Ida a Portugal. Pelos piores motivos, certo, mas ninguém me tira o sorriso (fechado por fora por causa do aparelho, mas radiante por dentro) sempre que vou a Portugal.
Cada vez que vou, corro várias maratonas: visitar amigos, tratar dos meus assuntos, dos assuntos dos meus pais, disfrutar da minha família e sobretudo da minha pequena Matilde... 6 dias vividos intensamente, mas que me deixam sempre imensas saudades na partida...
E por hoje é tudo... Espero que tenham sobrevivido a esta longa narração de (des)aventuras. Sei que EU sobrevivi... não sei bem como, mas ainda ando por aqui!!!
Já estou a trabalhar (LOL) na escrita das minhas “mémoires” de Abril a Junho....Siiiimmmm, a minha vida continua completamente “upside-down” e com muitas estórias para contar!
Jul 7, 2007
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