Sep 8, 2009

eu, the houses

...et les déménagements.

um "curto" rewind sobre os países, as cidades e as casas por onde passei.


197x - 1991 (migennes, france).

mudamos de casa era eu bébé. não me lembro de viver *no* apartamento. mas lembro-me da casa onde vivi desde então. do alto pinheiro escandinavo frente à janela da sala de estar. do lilaseiro a fazer fronteira entre o nosso jardim e o de mr. et mme. p. lembro-me, sim. traz-me calorosas recordações da minha infância e das brincadeiras com as minhas manas. ainda hoje quando voltamos à migennes, vamos prestar homenagem à *nossa* casa - que foi entretanto vendida, vandalizada e assassinada pelos novos proprietários.


1991 - 1992 (barcelos, portugal).

mudança de país. mudança de casa. a primeira mudança da qual tenho memória. e a mais difícil de todas. tinha eu 13 anos. deixei os meus pais e as minhas manas para trás. fui viver para a "casa menino de deus". um centro/internato regido por freiras que acolhe crianças (de famílias desfavorecidas e filhos de emigrantes...). sobrevivi 4 meses. fui cordialmente convidada a sair. long story. os restantes 6 meses foram passados em casa dos meus tios b. e a.

e no ano seguinte...

1992 - 1996 (vila cova, portugal).

fui morar sozinha. a mana p. entretanto veio para portugal e ficou a viver em viana do castelo. de quando em vez, aparecia (quando eu não estava em casa) e roubava-me as minhas trufes de chocolate (private joke). muitos bons momentos, sobretudo quando a mana c. juntou-se a nós em 1993. saudades das noites cinema, com autênticos hamburguers fait-maison. o b. (o nosso cão) completou a família em 1995.

1996 - 1997 (tomar, portugal).

colocação no instituto politécnico de tomar - curso de engenharia química. fiquei nos primeiros meses numa casa perto da ponte velha da cidade, em coabitação com duas raparigas (uma professora de cuba - alentejo, e uma optometrista de lisboa). o problema desta casa era 1) ficar longe do instituto (na época tudo ficava longe do instituto situado na estrada para a *serra*); 2) a proprietária gostava de fazer visitas-surpresa e não pedia licença à ninguém; 3) a proprietária quis colocar alguém para partilhar o meu quarto (que era a sala de estar/de jantar). mudei-me então para uma *república* (o ipt era apadrinhado por coimbra - ou pelo menos era essa a desculpa). tempos difíceis. as miúdas eram desarrumadas (para não dizer porcas) e barulhentas. sobrevivi aos poucos meses que me faltavam - chegava na madrugada de segunda-feira (apanhava o autocarro dos recrutas militares (de tomar, santa-margarida e abrantes) em braga às 23h00) e partia na quinta-feira às 5h00 (o que me permitia chegar às 11h00, a tempo de almoçar com o meu avô). 1996 foi também o ano em que a mana p. partiu para a suíça.

1997 - 1998 (entre guimarães e tomar, portugal).

o meu segundo ano, foi mais *curto* no sentido em que só pus os pés em tomar para abastecer-me de apontamentos e comparecer aos exames (obrigada s' por me deixar acampar em tua casa). passei o ano lectivo com a minha mana c. em guimarães e assisti às aulas na universidade do minho. o que de certa forma influenciou a decisão seguinte.

1998 - 2003 (braga, portugal).

mudança de curso. mudança de universidade. mudança de cidade. a minha mais curta estadia e a mais longa. a mais curta, pois o primeiro quarto que me foi designado na residência universitária -carlos lloyd braga- foi em partilha com uma menina da figueira da foz; e esta não correspondia aos meus requisitos de roommate. num espaço minúsculo, ela conseguiu colocar uma dezena de tapetes/carpetes; na casa-de-banho instalou um fio para secar roupa que me obrigava a escovar os dentes entre wonderbras e apesar de lhe ter dito que era proibido fumar no quarto, s. exa. aproveitou o fim-de-semana para defumar o local. tive todas as boas razões para pedir um quarto individual, somando a desculpa que sofro de rinite alérgica e sou asmática. permaneci nesse quarto (individual) até o final do curso. possivelmente a minha mais longa permanência se não contar a casa dos meus pais.

setembro 2003 - março 2004 (baltimore, usa).

em 6 meses que permaneci nos estates, mudei 2 vezes de casa. a primeira situava-se em baltimore downtown. os problemas desta moradia eram os seguintes: 1) a casa ficava a cerca de 20kms de distância da universidade (o que traduzido em milhas americanas, resume-se a nada mas como sou portuguesa, resume-se a muito!); 2) as raparigas que saíram da casa "esqueceram-se" de levar os cães - passei o meu tempo a alimentar os pobres bichos abandonados - foram recuperados quase um mês depois; 3) fartei-me dos ébats amoureux do meu housemate, mas sobretudo da namorada dele. jamais me esquecerei dos gritos monocórdicos dela. se tinha de fingir, pelo menos que o fizesse correctamente e com convicção; 4) baltimore é (ou era?) uma cidade conhecida pela sua elevada taxa de criminalidade. para ser sincera o medo que eu sentia em regressar à casa de noite/madrugada não se devia aos "criminosos" em si, mas sim a outros moradores - as ratazanas. de dia e de noite, era vê-las a passear na rua como se de animais de estimação se tratassem; 5) quando a k. decidiu mudar-se para a casa, achei que as coisas iam acalmar. estava redondamente enganada. para além de me roubar coisas (comida, detergente, toalhas de banho...), ainda tive direito a um threesome live. muitos teriam gostado de estar no meu lugar, mas acreditem estava demasiado cansada para achar piada; 6) ou ele ou eu? após uma das minhas intensivas e minuciosas limpezas à casa, tive a infelicidade de acordar um rato adormecido. literalmente falando. descobri "prendinhas" em vários cantos da casa e quando confrontei o meu housemate, ele simplesmente respondeu que deviam ser antigas, pois tinham instalado um sistema de ultrasons para afugentar os bichos. hum, hum. na noite seguinte, tive o prazer de ser formalmente apresentada ao mickey mouse. estava eu a lavar a loiça quando senti algo a passar-me sobre os pés. era ele. foi a gota de água. tentei convencer o meu housemate a livrar-se dele (veneno, ratoeira...), mas estranhamente os americanos são capazes de matar pessoas mas não animais quasi inúteis à sociedade. e assim tive eu de mudar de casa. felizmente, a i. e o g.m., ambos portugueses e ambos alunos de intercâmbio, quiseram também mudar de casa (problemas com as housemates). num golpe de sorte (ou não), encontrei uma senhora no departamento a colar anúncios à procura de inquilinos. fomos os perfeitos candidatos. partilhei a casa com eles até dezembro - eles (i. e g.m.) regressaram a portugal, e eu fiquei só com a k. (a proprietária). não quero entrar em detalhes, mas acreditem que não sei como sobrevivi a essa tresloucada (pior do que eu, mas o oposto). em finais de março 2004, regressei a portugal.

abril 2004 - outubro 2006 (vila cova, portugal).

de regresso a portugal e de regresso a casa dos meus pais. algumas coisas mudaram - entre elas, os casamentos das minhas manas (ambos em 2003), e a mudança do meu avô para a nossa casa (em 2002). dois dos meus melhores anos, sobretudo pela convivência com o meu avuelito. nem sempre foi fácil, alguns desentendimentos, alguns atritos, a saúde dele que se degradava. éramos um "velho" casal. gostavamos tanto um do outro que às vezes tornava-se difícil. em agosto de 2006 (e graças à s.m.), tomei a decisão de seguir o meu sonho - fazer um doutoramento. os meus pais regressariam definitivamente a portugal em fevereiro de 2007, o que me permitia "deixar" provisoriamente o meu avô aos cuidados da minha mana c.

outubro 2006 a fevereiro 2008 (dublin, éire).

fui aceite em setembro de 2006 para um doutoramento na university college dublin. pouco ou nada sabia do país, mas lá fui eu cheia de coragem e entusiamo pela nova aventura que me aguardava. a minha primeira casa foi perto do radisson hotel e a escassos 15mins do instituto. o apartamento era perfeito, com o único senão que tinha uma flatmate. por esta altura e após esta (já) longa leitura, conhecem o meu padrão. aguentei temperaturas de 30°c em pleno inverno, pois a menina gostava de passear em casa sobre o *leve*. chateei-me quando recebemos uma factura de gás de 700€. aguentei mais algumas *facadinhas* e sobrevivi 6 meses. levei o meu carro para a irlanda e em maio de 2007, mudei-me para uma aldeia 20kms a sul de dublin - kilmacanogue. vivi feliz durante 9 meses e meio. o local era belíssimo, as gentes de uma simpatia extrema, a localização perfeita (óptimos acessos), o estúdio era perfeito, o meu senhorio - um anjo caído do céu... o único senão, é que vivia isolada. e os invernos na irlanda são longos. muito longos. a somar, problemas com o meu orientador e a morte do meu avô em dezembro de 2007. entrei em depressão, e tornou-se incomportável viver só e isolada.

e fui viver para...

fevereiro 2008 a maio 2008 (coalisland, northern ireland UK).

o único sítio onde residia um português que eu conhecesse e que se prestou a dar-me apoio. fisicamente, só morei com ele 2 meses, visto que de fevereiro a início de abril, fui curar-me para portugal. e desses dois meses, só retenho as 6 horas de comboio que eu fazia todos os dias entre portadown e dublin, e vice-versa. demasiado cansativo. e quem trabalha num laboratório, sabe que é impossível ter horários fixos.

e por isso...

junho 2008 a agosto 2008 (dublin, éire).

de volta ao ponto de partida. 2 (longos) meses na residência universitária. se por um lado, foi estrategicamente bom viver on campus, pelo outro, não teria sobrevivido a mais de 2 meses naquele local. o barulho, a desarrumação, a falta de higiene e civismo das pessoas estavam a afectar-me os nervos.

e no fim daquilo que deveria ter sido um doutoramento, mas ficou-se por um mestrado...

agosto 2008 - ao presente (basel stadt, schweiz).

mais um país, mais uma cidade e mais... 2 casas e a caminho da terceira. fiquei cerca de 2 semanas no primeiro apartamento. apesar de estar geograficamente perto da universidade, o apartamento deixava muito a desejar (acho que já passei a ideia de ser *picuinhas*, quando na realidade sou... exigente?). reinava um cheiro desagradável a comida no prédio e na entrada deste, um odor a *urina*. o interior estava num estado deplorável, e deixava-me um tanto ou quanto sorumbática. não sei como, convenci um colega meu a ficar com esse soberbo apartamento e mudei-me para este onde estou agora a viver.
lembram-se da cena inicial do filme se7en? quando o brad pitt e a gwyneth paltrow mudam-se para um apartamento e só depois é que se apercebem que foram ludibriados? o mesmo aconteceu comigo. visitei este apartamento num dia de calma total (ouviam-se os passarinhos a cantar) e no final da tarde (sem martelos pneumáticos por perto). é claro que não olhei a vizinhança com olhos de ver. afinal, que experiência tenho eu em arrendar casas?! e é claro que não me apercebi que estava na soon to be rua mais caótica de basiléia. aliás, também ninguém me avisou que a paragem de trams ia ser construída bem em frente à janela do meu quarto...

por isso, pela vigésima vez, vou embalar toda a minha tralha... espero que seja a última - pelo menos nos próximos 3 anos :)

1 comment:

Alexandre Correia said...

Olá Li,

Caramba! Ao ler o extenso historial de lugares e casas onde viveu não posso deixar de dizer isso. Fiquei impressionado e interrogo-me se uma vida tão itinerante não será demasiado cansativa, demasiado desenraízada? Creio que saber isto me ajudou a compreendê-la melhor. Ou ainda melhor. Mas também não posso falar muito, porque eu próprio levo uma vida carregada de mudanças. E algumas não tão fáceis quanto mudar de casa...

Beijo,

Alexandre Correia