Feb 3, 2010

a teoria

...robin hood.

conta a lenda que o fulano em collants e pena no chapéu roubava aos ricos para dar aos pobres.
conta a lenda "versão moderna do século xxi" que pessoas oriundas de países pobres (sem collants e sem pena no chapéu) emigram para países ricos com o mesmo propósito: roubar aos "ricos" para... enriquecimento próprio.
esta teoria não me pertence - foi a explicação que me deu m. depois da minha longa queixa sobre cette bande de racaille que pulula aqui na suíça.

dia 28 de janeiro, fui para genebra para o concerto do charlie winston (que tinha sido cancelado a 21 de novembro 2009). depois de ter trabalhado freneticamente durante as 3 horas de viagem de comboio sobre uma apresentação que (supostamente) tinha no dia seguinte, cheguei à estação onde ia encontrar a minha mana. uma rápida chamada para saber por onde ela andava e apesar de ter de esperar somente 5 minutos, decidi ir para a entrada da estação poluir os meus pulmões. mal pousei a mala, fui quase de imediato abordada por um fulano (que não falava nem francês nem inglês) a pedir-me lume (percebi quando ele tirou o maço de tabaco do bolso). estendi-lhe o meu isqueiro e ele fez questão que lho acendesse. deveria ter suspeitado. enquanto lhe acendia o cigarro, ele segurou-me nas mãos. não estava vento, o isqueiro não estava em risco de se apagar. foi uma sensação estranha. desconfortável. ele agradeceu-me com um aceno da cabeça e partiu. uma fracção de segundos depois, apercebi-me que o meu saco de viagem já não estava a meus pés. a minha reacção foi correr para a direita (por onde ele tinha ido) e parei autocarros, trams à procura da minha mala (beige e branca era fácil de reconhecer). nada. olhei à minha volta. nada. voltei para dentro da estação, telefonei à minha mana e fui correndo para o posto da polícia - que estava fechado e pediram-me para me dirigir ao posto de pâquis. encontrei a p. que já estava perto de 2 agentes e fomos acompanhadas até ao posto. olhei em redor, ainda com esperança...
computador portátil (pertencente à universidade), telemóvel (amigos, agradeço o envio via email dos vossos contactos...), roupas (algumas coisas com algum valor), os bilhetes do concerto, gone!
o agente foi de uma simpatia extrema - e as duas horas passadas no posto de polícia foram de certa forma divertidas: estava um fugitivo do hospital psiquiátrico (um habitué da casa) a dar show (presenteou-nos com uma sessão de fitness) e foi alvo de gozo por alguns agentes. mas fiquei sobretudo surpreendida pelo número de pessoas que passaram pelo posto. eram 19h, e havia de tudo um pouco: casa assaltada, carro roubado, carro vandalizado...
folheei 4 pastas cheias de fotografias. e nenhum dos fulanos era suíço ou de origem francófona (nem português for that matter). páginas e páginas de homens (30 - 35 anos) de origem magrebina ou de países de leste identificados por pequenas burlas.
após ouvir todos os detalhes dos quais me lembrava (1m70, cabelo liso, castanho escuro, olhos castanhos, estrábico, tez clara, vestido com um casaco longo preto, luvas pretas em pele...), uma descrição do momento do assalto (vol par astuce) e a longa lista dos objectos perdidos, o polícia confrontado com o meu desespero (e o da minha mana), telefonou à salle des fêtes de thônex e pediu que nos deixassem entrar sem bilhetes. e assim foi. fomos para o hotel deixar as "nossas" coisas e gozar de 2 horas de boa música. a cabeça não estava muito para festas, mas a noite acabou bem... mas isso, já é outra estória :)

no dia seguinte, regressei ao posto de polícia à procura de novidades (quantas vezes já escrevi neste blog que ia deixar de acreditar no pai natal?!). dei o número de série do computador e recebi um cartão para telefonar (durante um mês) para o "service cantonal des objets trouvés". ficamos um pouco à conversa com a agente e acabei por dizer o que muita gente pensa mas ninguém diz:
"se as pessoas vêm para um país de acolhimento para fazer merda então que regressem ao país de origem!"

podem me chamar extremista, racista, xenófoba, radical, o que for. mas sou filha de emigrantes. sou neta de emigrantes. sou irmã de uma emigrante. sou emigrante. o cadastro dos meus avôs, dos meus pais, da minha irmã, o meu: imaculados.
porque sabemos como nos integrar no país de acolhimento. os meus problemas, os problemas que eu tenho com o meu país de origem ficam em casa. não os trago para a sociedade e sobretudo não culpabilizo terceiros.

tanto sarkozy como berlusconi têm razão (e já concordava com eles antes disto me ter acontecido): se um emigrante comete um crime no país de acolhimento, tem de ser imediatamente repatriado e inscrito na lista negra da emigração. sou a favor do intercâmbio de pessoas entre países quando isso traz benefícios para todos.
mais foutre la merde dans un pays étranger, alors lá non!

4 comments:

Ric Jo said...

Episódio deveras frustrante. Nem me quero pôr na tua situação. You have my sympathy, for sure.
Mas deixa-me dizer-te que foi a seguinte frase que me surpreendeu:

"... dei o número de série do computador ...". Li, saber o número de série do computador (ou mesmo tê-lo apontado), é fantástico :)

li said...

r.j,
obrigada pelas palavras de reconforto :)
acredita que volvidas 2 semanas ainda tenho pesadelos...

quanto ao número de série do computador, simplesmente telefonei para a universidade -dei o número que lhe tinha sido atribuído internamente- e facultaram-me a informação.
tenho boa memória para números mas tenho os meus limites :P

CPA said...

olá elisa!
o facebokk tem, de certeza, um aspecto positivo: permite "encontrar" pessoas que há anos n víamos...
e do facebook vim parar ao teu blog...
pena o tal episódio do roubo...
live and learn...

beijinhos!!

li said...

olá c.!

é verdade, o facebook tem os seus prós e contras, mas reencontrar amigos é com certeza um plus. como estão as coisas contigo - ainda por esposende/marinhas?

p.s. a lição foi aprendida até a próxima vez :)

beijinho,
l.