Feb 9, 2010

le corps humain

...et ses pipi, caca, prout.

os básicos da (sobre)vivência do ser humano são: comer, beber, urinar, defecar e fornicar (e não obrigatoriamente por esta ordem). depois, temos as variações relativas a cada uma destas "necessidades": com quem, quando, como, o quê, quantas vezes, etc.. e temos também as variações que resultam de combinações entre as 5 e que não vou aqui enunciar.
mas o que me intriga é o que certas pessoas comem e bebem. não estou a falar de comida ou bebida consideradas "normais", mas de sangue e secreções humanas. há pessoas que vão desde comer o próprio ranho até dejectos de outros, ou então beber sémen ou sangue, deles ou de outros.

no outro dia, uma amiga minha teve uma atitude um tanto ou quanto estranha (para mim, pelo menos). depois de enfiar um tampão, lambeu o dedo. ora, se pensarmos nisso, não há nada de anormal. é como chupar o dedo depois de um corte...
e este acto (tão natural para ela) levou-nos a uma longa e filosófica discussão sobre isso mesmo: quais são os limites na auto-descoberta do nosso corpo?

encontramos várias referências cinematográficas e televisivas sobre este assunto. por exemplo, em shortbus, james faz-se um self blowjob (admiro-lhe a elasticidade e perseverança) num filme que ele quer oferecer ao namorado;
na série sex&the city (possivelmente não é a melhor referência, mas é o que me ocorre neste momento), tem uma cena em que a miranda fica enojada depois de um amante a tentar beijar depois de lhe fazer um cunnilingus, e outra em que a samantha obriga o toy-boy a provar-se pois já não suporta fazer-lhe sexo oral devido ao seu sabor nojento.

and i could go on and on for hours, mas vou saltar directamente à conclusão:
como podemos pedir a alguém para nos fazer um fellacio ou um cunnilingus sem nos saborearmos a nós próprios antes? o à-vontade numa relação sexual não é baseado nessa simples regra? conhecer milimetricamente o nosso corpo, os nossos limites, as nossas virtudes e os nossos flaws, conhecer o "exterior" tão bem quanto o "interior"?
e quem instituiu que as nossas secreções são sujidades?

11 comments:

Filipe said...

Este blogue acaba de entrar no Novo Mundo...

Alexandre Correia said...

Ola Li,

Nao sei quem instituiu essa ideia, mas aquilo que eu sei è que a agua so nao lava as linguas porcas. Quanto ao resto, nao sera apenas uma questao de preconceito?...

Beijo,

Alexandre

PS - Beijava uma boca com dentes estragados? Eu nao...

li said...

olá f.,
pode ser um "mundo novo" aqui no meu blog, mas não no meu "dia-a-dia" :)
acredita que tenho tido conversas muito interessantes sobre este assunto... pode ser que um dia venha a escrever sobre elas.

olá a.,
acredito que parte seja preconceito, e outra parte seja educação. quem nunca ouviu a mãe dizer: "não metas os dedos no nariz, é porco! não roas as unhas, é porco!... não faças isto, é porco! não faças aquilo, é porco! é porco, é porco, é porco!"
se é algo que nos pertence. é produzido pelo nosso corpo, onde é que está a sujidade? é claro que depois podemos olhar sob o prisma biológico e funcional: o nariz é o filtro do ar, a uretra/o ânus são os esgotos do corpo, etc. um misto entre e. coli e . aureus. a visão não é muito pleasant. mas o mesmo poderíamos dizer da boca...

e não está em questão a outra pessoa, mas sim nós - a pessoa. como donos do nosso sexo. não deveríamos saber o nosso sabor antes de o dar a provar a outras?

p.s. duas coisas que olho num homem: os dentes e os sapatos - vá-se lá entender...

Ric Jo said...

Curto imenso o Shortbus (muito mesmo), mas há outro filme que leva este conceito de provar secreções próprias e de outros a um outro nível: O Império dos Sentidos (filme Japonês). Não vou entrar em pormenores sobre o filme, mas quem o viu saberá perfeitamente do que falo. Creio que esse é um extremismo ao qual não é muito saudável se chegar. Creio que não terá problema nenhum experimentar certas e determinadas coisas limites, mas não de forma constante. Nem do próprio, nem de outrem. bem sabes como estudante e profissional da ciência que a natureza funciona de forma maravilhosa. De forma complexa e de forma simples. E todos esse processos têm sempre lógica e razão de ser: Daí acreditar que não tem lógica nem razão de ser o provarmos a nós próprios. Se assim fosse, conseguiríamos fazê-lo com a mesma dificuldade com que nos masturbamos, por exemplo.
Mas como disse em cima, experimentar nada custa ;)

Ric Jo said...

Pequena correcção: na minha penúltima frase, a palavra correcta seria 'facilidade' e não 'dificuldade' com que nos masturbamos, obviamente!

Filipe said...

A linha entre curiosidades sexuais e higiene pode ser ténue e vai de cada um.
De facto a escatologia está mais ou menos presente na vida sexual de cada um.

Agora, não sou muito adepto de comer merda, nem de dar a comer merda, nunca urinei nem fui urinado (sexualmente diga-se), não me choca lamber um corte de uma ferida de uma amiga, mas não me aventuro em cunilingus em épocas de "Benfica", já o fornicanço em si nessas épocas também não me choca desde que se siga um bom duchezito. Não me sinto propriamente tentado em provar o meu sémen, mas na lista dos sémens, é o único que eu poria como possibilidade, o dos outros não me atrai muito.

Vómitos também não me soa muito sensual.
Dentes podres também não.

Acho que os meus limites estão mesmo na higiene: admito chafurdar um bocado nas cenas mas com banho a seguir.

li said...

r.j.,
o shortbus é na minha opinião o filme a ver (pode não reunir o consenso de todos -e aqui refiro-me a ti, ó especialista musical- mas escrevi a minha tese de mestrado a ouvir repetidamente o soundtrack do filme) :)
quanto ao "império dos sentidos" -por acaso não me lembrei de o citar- é completamente diferente do primeiro, mas possivelmente retrata melhor o assunto aqui abordado. vem um pouco em linha de conta com os livros do marquis de sade :) (um pouco mais soft talvez).
e tens razão, o corpo humano teria sido desenhado para tal se tivesse essa finalidade (de se auto-estimular oralmente (?)).

não obstante, e como bem disseste, experimentar não custa :P

f.,
gostei descobrir quais eram as tuas libertinagens...
também não sou muito dada a escatologias (coprofagias e afins), mas acho que tudo se resume à nossa barreira psicológica. e o que custa é a primeira vez :P

lipe said...

pois, as barreiras. Gosto das minhas obrigado. :D

Alexandre Correia said...

Olá Li,

Como muito bem diz, o que custa é a primeira vez...

Beijo,

Alexandre

PS - Para recordar a sua tese...

http://www.youtube.com/watch?v=zwFS69nA-1w

Ric Jo said...

Só para clarificar: Eu curto bués o Shortbus! Bués mesmo! Muitíssimo mais que o Impérios dos Sentidos. Sem qualquer tipo de comparação.

Qual especialista, qual quê! ;)

li said...

a.,
obrigada pelo link. adorei a música e o vídeo (este é mais um excelente trabalho do james cameron mitchell). gostei também da curta aparição da daniela sea :)

r.j.
o filme é excelente concordo contigo, mas estava a referir-me à banda sonora - nem toda a gente aprecia - alguns colegas meus quase me expulsaram do lab por causa do "vira-o-disco-e-toca-o-mesmo" (verdade é que o ouvi quase ininterruptamente entre setembro e dezembro 2008).
quanto ao "império dos sentidos" é simplesmente diferente. não existe ponto de comparação.

e chamo-te "o especialista" porque és -à data- o único que reúne consenso. pelo menos ninguém me manda baixar o som quando ponho no ar os teus podcasts - apesar de ainda não ter tido coragem de passar o famoso untz, untz, untz programa #22 :)