Jan 23, 2010

the funny thing

..is that usually they don't say/write anything coherent.

s. eminência -o cardeal patriarca de lisboa- aproveitou a homilia sabatina para opinar sobre "actualidades". não me vou aqui pronunciar sobre isso, pois o propósito deste post é outro: os comentários à notícia.
alguém me sabe explicar o porquê das pessoas que defendem a igreja serem tão narrow-minded e incultas?
poderia deixar aqui vários testemunhos, mas a minha favorita e vencedora, é esta senhora: lígia, de lisboa.
passo a transcrever (sic) o best of da senhora:
1. "Sou católica, não aceito o casamento guy, mas não me imiscuo na vida dos que aceitam e optam por viver dessa forma. Isto deve servir de testemunho para quem expele tanto veneno contra os católicos, porque tolerar não é aprovar aquilo que é contrário às nossas convicções mas é não interferir na vida de quem pensa e vive diferente, são os “estranhos morais” do mundo plural de Engelhardt. Nb: O meu mail não é anónimo";
2. "As igrejas não impõem as suas convições, as igrejas vivem mundividências! Se os media as publicam quem não as quer ouvir, ver ou ler, feche os olhos ou mude de canal/onda. PS: Galileu era católico e tombou perante a intrigra de outros cientistas da época que, como o povo, experimentam sensorialmente, todos os dias, o sol a "mover-se".";
3. "É lamentável que se apreciem as afirmações do Cardeal ou de qualquer outro membro da Igreja como imposições! Eles podem e devem falar mesmo que os códigos de significação só sejam entendidos por alguns. Mais lamentável é aparecerem sempre os mesmos com os mesmos argumentos a remover a história com Galileu e a inquisição etc. Estamos no Sec XXI e não é historicamente aceitável julgar o passado com os valores do presente.".

nota: fiz um esforço e mantive o texto na sua forma original :)

11 comments:

Filipe said...

ai Li, essas generalizações sobre as pessoas que defendem a ireja. narrow-minded e incultas?

li said...

tens razão f.
o post foi escrito às 3 da matina e sob influência de alguma cafeína :)
apresento as minhas sinceras desculpas à generalidade das pessoas crentes pela parte de "incultas", mas mantenho o narrow-minded.

Alexandre Correia said...

Olá Li,

Esta manhã, ainda de madrugada, fui tomar conta da minha filha mais nova e enquanto ela não acordava entretive-me a fazer uma coisa rara: ver televisão. E nos canais de notícias tive oportunidade de assistir a essas declarações. Não são novidade, mas a forma como continuam a ser repetidas deixam-me a pensar se não teria sido ainda pior ser eleito Papa este nosso Cardeal Patriarca (que era apontado como um dos "favoritos" à sucessão de João Paulo II...), do que o actual "Pastor Alemão"?
Ao contrário da pedofilia, que é de todo inaceitável, os casamentos entre pessoas do mesmo sexo deviam ser considerados um acto tão normal quanto o é um casamento heterosexual. Aliás, deixe-me contar-lhe uma coisa curiosa: quando me ponho a pensar em casais felizes, no primeiro lugar da lista aparecem-me sempre dois amigos que, realmente, são as duas pessoas mais felizes que vivem juntas e que eu conheço. E custa-me que eles não possam ter uma vida normal como casal, por bem mereciam isso.

Beijo,

Alexandre Correia

li said...

olá a.,
não queria muito comentar sobre o discurso do cardeal de lisboa, mas já que abriu a porta...
1. a lei é clara: casamento civil. ninguém falou em casamento religioso. logo a igreja não tem palavra no assunto.
2. da mesma forma que a igreja católica não reconhece o casamento civil heterossexual, não é novidade nenhuma que não o faça para o homossexual. então porquê o dizer publicamente?
3. a "casa do senhor" não deve ser utilizada para propagandas políticas. se ele tem uma opinião sobre este assunto (ou outro), que a guarde para ele ou a discute entre amigos. utilizar a homilia para discutir actualidades, a isso chamo "lavagem cerebral".
4. se s. eminência quer falar de actualidades na sua homilia que o faça de uma forma vertical e transparente - por que não falar dos problemas dentro da instituição? por que não falar dos abusos sexuais por padres?
5. engraçado que esteja firmemente contra os casamentos gay (entende-se homens/homens), quando -por norma- os padres pedófilos abusam de jovens rapazes...(os casos com meninas são bem mais raros).
6. que moral tem a igreja sobre os fundamentos da família, quando obriga os padres, freiras e afins a praticarem o celibato - qual é a contribuição deles na salvamento e fortalecimento da instituição familiar? trazer ao mundo bastardos, frutos de "fornicação" é a definição politicamente aceite pela igreja?
7. uma igreja proibitiva com o seu rebanho, e muito permissa no seu círculo. "façam o que eu digo, não o que faço" é o lema da igreja.

não simpatizo com "s. eminência" e nem com o "pastor alemão" (adoro este epíteto) - mas tem razão: entre os dois, venha o diabo e escolha...

abraço,

l.

Alexandre Correia said...

Li,

Perante a sua resposta, só me ocorre dizer: Cruzes, canhoto! Invocar assim o Demo até me arrepia, ou será do frio desta noite, aqui em Lisboa? Humor à parte, já ficou bem claro que temos pontos de vista em comum — neste caso e noutros, tal como discordamos de muitos outros, como é normal... — mas realmente sinto que devo acrescentar um ponto a este "debate": quando fala dos temas das homílias e do papel que a Igreja poderia ter de importância neste momento, não posso deixar de insistir na questão da indiferença. É, para mim, esse o "mal de todos os males". Devíamos combater isso nas missas, nas escolas, especialmente nas escolas, pois é nas crianças que está o futuro e nos "velhos" já não aprendem. Mas já que nas escolas não se combate a indiferença através da sensibilização das crianças e dos jovens para o que isso significa, pelo menos na Igreja isso devia ser a "cruzada" dos nossos dias. Eu esforço-me nessa cruzada, mas sinto-me um guerrilheiro perdido nesta luta.

Beijo,

Alexandre

PS - Reparei outra vez nessa frase linda que tem no fim do seu blog. Myles Munroe é (ou era?... _ que eu não conheço o Senhor) um sábio. Porque, de facto, só quem nunca passou por isso é que não entende que "Fracasso não é a ausência de sucesso, é desistir de tentar". Já me deu que pensar para esta noite. Tenha você também uma boa noite!

Filipe said...

O interessante é ver onde estão os reais radicalismos.

A Igreja tem o direito de opinar sobre o casamento, civil ou outro, é uma Instituição que faz parte da nossa sociedade.

A Igreja não aceita, com todo o direito, o casamento entre homossexuais. É clara nas suas razões, concordando-se ou não.

A questão do casamento entre homossexuais não é apenas religiosa, eu que não sou crente nem baptizado já agora, tenho a minha posição. Não julgo ser "norrow-minded". Aliás, o espírito fechado ou aberto não se mede pelas aceitações de tudo, porque a aceitação de tudo é o caminho mais curto para a imposição. Muito mais curto do que se pensa.
A imprensa sobre as declarações de José Policarpo fez títulos falsos, quem ler a sua intervenção vê bem o que ele quis dizer.

O "casamento" é a união de um homem e de uma mulher. A união de um homem com um homem ou mulher com mulher não é "casamento". Confundir isto com intolerância ou homofobia é injusto e errado. Confundir isto como "narrow-minded" também me parece errado, a abertura de espírito não é o mesmo que a aceitação da descaracterização gratuita de tradições.

E volto a frisar, que a luta na nossa sociedade pelos direitos, mehor, pelo tratamento digno dos homossexuais não passa pelo "casamento", passa pela educação cívica e sexual dos nossos filhos e filhas (para os mais velhos já não vamos lá).

li said...

imposição, meu caro f., é o que a igreja faz à sociedade. impõe-lhe regras, leis, dogmas.
a aceitação da diferença (seja ela orientação sexual, religiosa...) passa sim pela educação. mas quando no dia seguinte (ao artigo sobre a homilia) o exmo. d. josé policarpo vem proclamar que o estado é laico, mas que a sociedade não o é (?!) e que não se devem retirar os símbolos religiosos (crucifixos) das instituições escolares... quem quer impôr o quê a quem? onde é que depois há espaço para a liberdade de expressão e de escolha - para a "livre" educação?

deus não proclama o amor entre todos? não somos nós todos irmãos, independentemente da raça, credo e orientação sexual?
sou baptizada - por escolha dos meus pais. mas escolhi não ser crismada (confirmação da vontade de ser católica). vou à missa. quando quero. quando sinto necessidade. não vou para ouvir os discursos pedantes dos padres. vou à procura da minha paz. do meu entendimento com "deus".

"abertura de espírito não é o mesmo que a aceitação da descaracterização gratuita de tradições."
tradições? que tradições? a homossexualidade existe há séculos. existe noutras espécies do reino animal. o que o homem instituiu como "verdade absoluta" noutros tempos, pode não o ser hoje. e já o escrevi do teu blog: na definição de "casamento" (c.f. infopédia) não existe referência ao casamento ser obrigatoriamente entre pessoas de sexo diferente. essa definição foi difundida por...
e se por tradição de "casamento" te referes à palhaçada das pessoas que gastam rios de dinheiro numa celebração para depois irem comemorar nos "comes&bebes" mas que findo o dia nunca mais põem os pés numa igreja excepto quando é tempo de baptizar o primeiro pirralho (para mais "comes&bebes")...
então eu digo: "que se lixem as tradições!"

e o que eu escrevi, é a minha opinião. não a imponho a ninguém. no meu blog, faço uso do meu direito à liberdade de expressão [http://pt.wikipedia.org/wiki/Censura_em_Portugal :)]. aceito também a liberdade de opinião. não espero mudar a tua, como não esperes que eu mude a minha.

Alexandre Correia said...

Olá Li,

Parabéns por este debate cada vez mais interessante. Apreciei muito este seu último comentário. Muito mesmo!

Beijo,

Alexandre Correia

Filipe said...

Não se entra numa discussão para mudar opiniões, não julgo que aches que é o que eu queira fazer. De todo.
Discute-se para se entender melhor as opiniões dos outros e fazer com que entendam melhor a nossa.
A tua visão da Igreja está a meu ver errada em vários pontos, e pior, cai numa generalização perigosa, exactamente igual aos radicais "crentes" face a outras opiniões.
Quanto à liberdade de expressão, valor que prezo bem alto, nunca o pus em questão. O teu blogue é teu, dizes o que bem entenderes, enquanto houver caixa de comentários uso eu a minha, e se por acaso não houver (outro direito de que bloga) serei leitor e quando não houver blogue ou estive fechado (outro direito de quem bloga) não lerei.

Alexandre Correia said...

Li e Filipe,

Se vos disser que ambos têm razão, estarei a dizer a verdade. Cada um, claro, tem as suas razões. Mas depois deste último comentário, dei-me conta de que quando insistimos demasiado nas nossas crenças (ou descrenças), tornamo-nos radicais. E um dos sinais é não aceitarmos as razões de outros. Filipe tem razão nesta matéria; por vezes defendemos tão apaixonadamente uma causa que acabamos por não entender que ultrapassámos os limites da liberdade de expressão, para, precisamente, restringir as opiniões que nos são contrárias. E isso não é correcto. Obrigado pelo tema de reflexão para a minha viagem até casa. Tenham uma boa noite os dois!

Abraço,

Alexandre Correia

li said...

"i enter into discussion and argument with great freedom and ease, inasmuch as opinion finds me in a bad soil to penetrate and take deep root in. no propositions astonish me, no belief offends me, whatever contrast it offers to my own. there is no fancy so frivolous and so extravagant that it does not seem to me quite suitable to the production of the human mind.

"human understanding is marvellously enlightened by daily conversation with men, for we are, otherwise, compressed and heaped up in ourselves, and have our sight limited to the length of our own noses."

by michel de montaigne