Jun 2, 2009

"a febre" by le clézio

...a minha leitura do momento.



se querem realmente saber, eu preferia nunca ter nascido. a vida, acho-a muito fatigante. claro, a coisa agora está feita e já nada posso alterar. mas haverá sempre no fundo de mim mesmo este remorso, que não chegarei a expulsar completamente e há-de estragar tudo. agora, trata-se de envelhecer depressa, de devorar os anos o mais rápido possível, sem olhar nem para a esquerda nem para a direita. é preciso suportar todas as mordidelas da existência, procurando não sofrer demasiado. a vida está cheia de loucuras. não passam de pequenas loucuras quotidianas, mas são terríveis se repararmos bem nelas.
[...]
vivemos num mundo muito frágil. é preciso prestar atenção onde pousamos o olhar, é preciso desconfiarmos de tudo quanto ouvimos, de tudo o que nos toca.
[...]
a escrita, nada resta senão a escrita, apenas a escrita, que tacteia com as palavras, que procura e descreve, com minúcia, com profundidade, que se entusiasma, que trabalha a realidade sem complacência. é difícil fazer arte quando se quer fazer ciência. de certo modo gostaria de ter mais um ou dois séculos para saber.

nota. obrigada m. pela prenda.

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