Mar 10, 2008

camelos na irlanda


faz em maio um ano que troquei as estradas lusas pelas celtas. se sempre me queixei dos portugueses e da condução deles (motivo pelo qual tirei a carta de condução tardiamente), o diagnóstico após um ano cá não é melhor.

os lusos têm a mania que são pilotos de fórmula 1. certas (auto)estradas e os potentes carros ajudam. a isto, somam-se a mentalidade latina, a falta de civismo e a falta de educação. perdi algumas pessoas amigas/conhecidos em acidentes de viação. outras ficaram estropiadas. e muitas vezes, não é possível culpar o estado das estradas, a falta de sinalização, nem tão pouco da falta de policiamento. culpo as pessoas.
após ter carta de condução, demorei mais 2 anos a meter-me sozinha na estrada. o meu avô foi o meu cobaia, o meu co-piloto. nervos de ferro, insultava os condutores por mim, estava sempre atento aos sinais e aos outros. apesar de não saber conduzir (sonhava muitas vezes em conduzir, dizia ele), era um instrutor 5 estrelas. devo-lhe muito. devo-lhe a minha liberdade. é claro que, após uns meses (anos) e confiante na minhas habilitações, já me irritava ouvi-lo dar-me instruções para estacionar o carro...
tive um só "acidente" (e alguns "toques" que não merecem referência): em ponto-morto, parada no trânsito à entrada de braga, deixei descair o carro. o meu reflexo foi travar a fundo, embatendo com ainda mais força no carro da frente. o meu fiat punto encolheu com o embate, o motor recuou cerca de 5cm e foram 1200€ que me doeram bem mais do que o impacto em si. coitada da j. que estava comigo e apanhou o susto da vida dela.
desde então e após muitos quilómetros feitos, considero-me "boa" condutora. tenho os meus "momentos", mas sou, em geral, bem mais calma do que as minhas manas a conduzir.

mas calma é com os irlandeses (da república). o trânsito é caótico nas principais artérias de dublin, não pelo número de automóveis nas estradas mas pela calma dos condutores. é raro vê-los ultrapassar o limite de velocidade e mantêm sempre uma confortável (para não dizer excessiva) distância do carro da frente. a calma deles é também irritante pelo facto de gostarem muito da faixa da direita - faixa de ultrapassagem. dizem que devem aos britânicos a condução à esquerda e que se fosse possível mudavam para o modelo europeu. verdade é que gostam da faixa da direita. muitas vezes, usam-na sem ser com o propósito de ultrapassar outro automóvel. usam-na porque gostam. e ai de quem se atrever a interromper o orgasmo deles com sinais de luzes, uma aproximação ou o uso do indicador. não sei se é por ter matrícula estrangeira (mas irlandeses confirmaram-me que já passaram pelo mesmo), mas já fui insultada, levei com o "dedo", o cheirinho nos travões e altas velocidades para dificultar a ultrapassagem. algo que me deixaria nervosa não tivesse eu sangue luso a correr-me pelas veias. conseguem despertar em mim aquela agressividade rodoviária bem portuguesa. felizmente, estas são situações raras.
depois temos os imbecis que só sabem usar o travão. nunca se lembraram que levantar o pé do acelerador também reduz a velocidade. conseguem percorrer quilómetros com o pé no travão. e nunca sei se estão a travar por algum motivo ou porque acham que o travão é para ser sempre usado.
ainda temos os idiotas que param no limite do semáforo verde para laranja, quando teriam mais do que tempo para entrar no cruzamento.
os agressivos-neuróticos que aceleram quando uma pessoa passa na passadeira, quando o sinal de peões está fechado. geralmente são taxistas ou os dublin bus. é também uma das raras ocasiões em que fazem uso da buzina.
temos os cuscas (os celtas, como os portugueses, gostam de coscuvilhice). carro avariado ou acidentado na berma da estrada é motivo para abrandar. não dão sinais de luzes quando há radares mas reduzem tanto a velocidade que não é difícil adivinhar.
há ainda os "L" - supostamente "aprendizes". digo supostamente porque o exame do código foi introduzido há pouco mais de 5 anos e o exame de condução não é "obrigatório" (a lista de espera para o exame é longa - anos de espera - daí a abertura na lei). é possível conduzir com uma "carta provisória". não existem lições de condução. as aulas práticas são dadas por outra pessoa (família ou amigo e não um instructor) que "saiba" conduzir. em novembro 2007, introduziram a regra dos "L" conduzirem acompanhados de uma pessoa com pelo menos 5 anos de carta de condução. certo é que ainda se vêem "L" a conduzir sozinhos (também não podem usar as autoestradas... mas é vê-los empatar o trânsito).

mas isto passa-se na república. na irlanda do norte, a estória é outra. são mais agressivos e mais excessivos. os irlandeses do norte são conhecidos na república pelos excessos de velocidade e ultrapassagem perigosas. não têm grande fama por cá. parecem-se com os portugueses :)
há muitos acidentes rodoviários - muito raramente nas autoestradas, muito raramente os "beijinhos" por trás. muitas vezes nas estradas secundárias (country roads), e muitas vezes se não sempre mortais.

ter um homem a buzinar-me nos ouvidos também não ajuda na minha condução. este fim-de-semana não ficou marcado por nenhum acidente mas uns "quase". isto dos homens não conseguirem ficar calados quando têm uma mulher ao volante (e nada de tretas de "mulheres ao volante, perigo constante")...

fica aqui só mais um registo. os anúncios publicitários de prevenção rodoviária são chocantes:


e mesmo assim, morrem mais pessoas cá per capita do que em portugal...

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