Nov 20, 2006

October/November 2006

1 - A VIAGEM
Portugal decidiu despedir-se com uma autêntica tempestade de chuva (para habituar-me ao clima do país adoptivo) - a custo, os meus pais deixaram-me no aeroporto, onde paguei nada mais nada menos do que 80€ de excesso de bagagem!!! Mulheres??!! Não sabemos viajar leves!

Cheguei a Dublin (sem atrasos - quem disse que viajar em low-cost não prestava?), e até aqui tudo bem - alguns percalços, mas nada mais. Esperei, espreitei os nomes de todas as placas das pessoas que esperavam à saída, tentei ligar ao meu prof. (maldita TMN que não me activou o roaming!!) e nada!!! Alguns minutos de stress (porque nem o nome/contacto do hotel onde era suposto ficar tinha comigo), até que após cerca de 30 min. eis que chega o meu orientador - tinha-se momentaneamente esquecido que chegava naquele dia. Enfim...

2 - AS ESTRADAS
Quando tinha 13 anos, fiz uma viagem de estudo à Grã-Bretanha (Inglaterra e Escócia) e lembro-me de ter achado imensa graça aos britânicos por conduzirem do lado esquerda da estrada.
Infelizmente, após ter a carta de condução e ter mais alguns anos em cima, já não achamos tanta graça quanto isso. Já quase fui atropelada uma dezena de vezes (apesar de estar escrito em quase todas as passadeiras "Look right" e "Look left") e ainda fico com o coração nas mãos quando vejo o cruzamento de carros, pois fico sempre com a sensação de que vão colidir frontalmente! Também já tentei entrar para o lado do condutor em vez do passageiro! O meu cérebro simplesmente deu um nó em relação ao trânsito.

3 - O TEMPO
Se Portugal se despediu com uma chuvada, a Irlanda abraçou-me com um tempo fantástico... dentro do possível, claro. Dias de "sol", frios (como não podia deixar de ser - bye, bye, t-shirts!), mas sem chuva...
Bem, tive direito a um dia de chuva (não fosse eu ficar mal habituada!) e para mal dos meus pecados, dia esse em que decidi ir à procura de casa (essa é outra estória!). Fiquei molhada até aos ossinhos! Não sobrou um milímetro de pele seca... Qual guarda-chuva, qual gabardine!! Era por toda à parte! Ainda estou a recuperar da constipação que adveio desse dia...

4 - À PROCURA DE CASA
Por mim, teria ficado no B&B (Bed & Breakfast) para sempre: boas instalações, os anfitriãos amorosos (apaixonados por Portugal - têm uma casa no Algarve porque o Sr. é fã dos "greens" portugueses), excelente pequeno-almoço (experimentem comer "crumbled eggs, bacon and tomatoes" logo de manhãzinha - eu não tive estômago!), mas infelizmente a Universidade só me pagava 7 dias... e pagar €60/dia do meu bolso não estava contemplado no meu orçamento. Então, lá fui eu à aventura da procura de casa. Primeiro, ligar-me ao
www.daft.ie - site de venda e arrendamento de casas na Irlanda - muito bom. Segundo, escolher o tipo de casa pretendido (no meu caso, andava eu à procura de um "estúdio" ou apart. com 1 quarto) e o valor a pagar (engoli em seco, nesta parte...). Um modesto estúdio em Dublin (Centro ou Sul, onde se situa a Universidade) custa nem mais nem menos do que €650 a €1300/mês - é mais barato do lado norte, mas infelizmente o custo de um passe de autocarro e o tempo dispendido em viagens não compensa.
Agora vem a melhor parte: a definição de estúdio. Eu? Vejo um T0 bem português: soalho em madeira, armários embutidos, cozinha totalmente equipada, casa-de-banho completa e uma sala ampla que serve de sala de estar e quarto - simples, não? OK, possivelmente estava a pedir demais... mas acreditem: o que vi, ultrapassa qualquer imaginação fértil!
1.º Estava a ruir de velho (assim como o senhorio!) - um cheiro nauseabundo a ranço, com móveis indescritíveis, uma alcatifa de cor indefinida, minúsculo (menos de 9m2) por €650 - NO WAY!!!
2.º Esta foi a melhor: numa cave (sim, cave), em 6/7m2 conseguiram instalar uma micro-cozinha e micro-casa-de-banho (podia estar sentada na sanita, lavar os dentes e os pés tudo ao mesmo tempo!) e a sala? Simplesmente divinal! A cama era embutida na parede na vertical (puxava-se para baixo, para abrir e empurrava-se novamente para fechar) e quando a cama estava fechada, abria-se outra gaveta donde se tirava a mesa para jantar! Fantástico... E para completar o bolo, tinha direito a uma gateira como janela! Uau! €650.
3.º Divinal - completamente remodelada, janela enorme, uma cozinha e casa-de-banho como devem ser, quarto e sala separados por uma cortina.. dois únicos senãos: não tinha máquina de lavar roupa e era a 5.ª pessoa na lista... e por infelicidade minha, a busca de apartamento em Dublin é uma guerra e eu perdi esta batalha...
4.º Última tentativa - definição no site do "daft": "luxurious". Fui ver este estúdio com todas as expectativas do Mundo - luxurioso? É a minha cara!!! Até o ver... Eeeerrrrghhhh... era um misto entre os dois primeiros apartamentos! Nem vale a pena descrevê-lo... Aliás, nem existem palavras, nem para definir a minha cara depois de o ver!
5.º Pus o meu coração de lado e decidi mudar-me para um apartamento de 2 quartos, a 15 min. portugueses (já explico esta) da Universidade, perto do Radisson Hotel e divido o espaço com uma miúda irlandesa de nome Emma. Mudei-me ontem de malas e bagagens.

5 - OS IRLANDESES
Existe de tudo um pouco: simpáticos, antipáticos, despachados, lentos como tartarugas... Tal e qual como Portugal. Aliás, advertiram-me logo que os serviços cá funcionavam muito lentamente... A minha resposta: "não vou estranhar, não pode ser pior do que Portugal!" E realmente, são tal e qual os serviços portugueses: devagar, devagarinho e parado. Esperei semana e meia para ter o meu cartão de acesso ao edifício, ainda não tenho o meu PPS (número de segurança social), sem o qual não posso abrir uma conta bancária e pedir o meu cartão de estudante e subsequentemente começar a receber!!! Depois (e esta aprendi a meu custo) para eles tudo fica "a 5 min." ou "around the corner". Meus amigos, nunca confiem num irlandês que vos diga isso. 5 minutos irlandeses equivalem a 15, 20 minutos portugueses e around the corner = 1 km.

6 - A UNIVERSIDADE
O campus universitário é enormíssimo - faz-me lembrar o campus da Universidade americana onde estagiei, com uma única diferença: nos EUA, o campus era enorme porque tinha muitos parques de estacionamento para carros, e os transfers eram feitos em autocarros. Na Irlanda, o campus é enorme porque tem muitos jardins, poucos parques de estacionamento para carros, mas muitos para bicicletas!!! Aqui, toda a gente pedala: bem vestido, mal vestido, aluno, professor...não importa!

7 - O MEU GRUPO DE TRABALHO
4 Raparigas: Helen e Barbara são irlandesas, Una é islandesa e eu, portuguesa;
6 Rapazes: John e Fergal são irlandeses, Chresten, Rune e Tommy (que volta em Janeiro) são dinamarqueses (como o meu orientador) e Nikolaj, russo.
Todos boa gente, divertidos. Ainda é complicado ter uma ideia concreta sobre eles pois ainda estou a começar e esta primeira semana, foi tratar de papelada e da casa. Mas tivemos a festa de Halloween em casa do Jens (orientador, casado com uma americana, Katie, estudante de medicina veterinária e grávida da primeira filha de ambos, Maja). Fui de bruxa (eu sei, eu sei, faltou-me a originalidade), a Una e o namorado foram de imperadores romanos, Helen de pirata e o namorado Brian de gangster, Rune de tirolês, Chresten de Pai Natal, Fergal de Ghostbuster, John de médico da peste negra, Jens de prostituta, Katie de Diabinha e Butler (o cão) era a rena do Pai Natal. Foi muito divertido: fizemos um jogo qualquer de cartas (não entendi muito bem, mas foi engraçado) e cantamos karaoké...